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Algumas Técnicas Para Resolver Problemas De Tradução Do Inglês Para O Português


Ovelheiro
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Tradução literal 
 
Fala-se tanto mal de tradução literal, que muitos acreditam que traduzir literalmente 
seja errado. Não é verdade. Muitos erros de tradução se devem a excesso de 
literalidade, outros tantos à tomada de liberdades desnecessárias com o texto dos 
outros. É preciso aprender a traduzir tão literalmente quanto possível, tão livremente 
quanto necessário, quer dizer, é preciso aprender quando é necessário tomar 
liberdades. Por exemplo, uma frase como: 
  • The boy ate a piece of cake. 
  • O menino comeu um pedaço de bolo. 
pode e deve ser traduzida literalmente na maioria dos casos. Que quer dizer na 
maioria? Talvez não caiba no espaço disponível, por exemplo. Mas salvo uma restrição 
dessas, não vemos nada de errado com a tradução. 
Não ceda à tentação de traduzir: 
  • The boy ate a piece of cake. 
  • O menino comeu uma fatia de bolo. 
Você pode até achar que fica melhor, mas não é a mesma coisa. Bolos podem ser 
cortados de mil maneiras, não só em fatias e essa tradução é desnecessariamente mais 
específica que o original. Não faz diferença? Pode ser. Mas talvez, dez páginas adiante, 
você venha a descobrir que a mãe do menino sempre cortava o bolo em cubos, não em 
fatias, e vai ter de voltar para corrigir o que parecia um melhoramento, mas era na 
verdade um erro. Isso, se você se lembrar de que cometeu o erro.
 
Pronomes do caso oblíquo 
 
O tratamento dos pronomes oblíquos envolve dois problemas, pelo menos. O 
primeiro é que o inglês por natureza usa mais pronomes que o português e, se você 
traduzir todos eles, vai cair em anglicismo de freqüência, que é o uso de uma 
construção perfeitamente correta, porém mais freqüente em inglês do que em 
português. O segundo problema é que o português brasileiro coloquial pede 
construções que a gramática rejeita e a forma que a gramática prescreve, por sua vez, é 
vista como muito formal e, quando usada muitas vezes no mesmo texto, dá ao texto 
um tom empolado. Um bom caso é: 
  • This document contains important information, read it carefully before signing. 
  • Este documento contém informações importantes, leia ele cuidadosamente antes de assinar. 
  • Este documento contém informações importantes, leia-o cuidadosamente antes de assinar. 
Onde temos uma tradução que viola a norma culta e outra que desloca o texto para um 
registro mais formal do que o desejado ou que, se aparecer com mais freqüência, vai 
tornar o texto cansativo e pouco idiomático. Temos várias soluções para o problema, 
por exemplo: 
 
Elidir o pronome 
  • This document contains important information, read it carefully before signing. 
  • Este documento contém informações importantes,(por isso) leia cuidadosamente antes de assinar. 
Este é o procedimento mais simples. A elisão do pronome é considerada marca de 
bom estilo em português e, aqui, o sentido fica igualmente claro com ou sem 
pronome. Aproveitamos para inserir um conetivo, como lembrete de que o inglês 
muitas vezes usa construções assindéticas onde o português prefere usar uma 
conjunção. Mas esse é um assunto de que não trataremos aqui. 
 
Apassivar o verbo 
 
  • This document contains important information, read it carefully before signing. 
  • Este documento contém informações importantes, (!ele) deve ser lido cuidadosamente antes de assinar. 
Quando se troca a voz do verbo de ativa para passiva, o objeto se torna sujeito e então 
passamos a lidar com omissão do pronome do caso reto, que também é comum em 
português. Note que o auxiliar deve serve para transmitir a idéia de imperativo que está 
no inglês. A construção sindética poderia ser: 
  • This document contains important information, read it carefully before signing.
  • Este documento deve ser lido cuidadosamente antes de assinar, porque contém 
    informações importantes. 
Transformar o verbo em abstrato 
 
Traduzir um verbo pelo abstrato correspondente é um dos procedimentos mais 
comuns e úteis na tradução do inglês para o português ou outras línguas românicas. 
Nem sempre funciona. Neste caso, por exemplo, o ganho de qualidade é praticamente 
nulo: 
  • Este documento contém informações importantes, recomenda-se [recomendamos, é recomendável] [fazer] uma leitura cuidadosa antes de assinar. 
Entretanto, sirva de sugestão para outros casos, que não vamos discutir aqui. Um dos 
truques de tradução mais úteis que existem é transformar verbos ingleses em 
substantivos portugueses.

 

 

Advérbios em –mente
 
A terminação –mente tem duas sílabas, ao passo que o inglês –ly tem uma só. Isso 
torna os advérbios em –mente mais pesados que seus análogos ingleses. Além disso, 
criam uma série de ecos, rimas internas indesejáveis. Por isso, devem ser usados 
parcimoniosamente. 
Na tradução, entretanto, o problema pode ser mais grave, porque, mesmo 
respeitando a regra do “nunca mais que três em seguida”, a sucessão de advérbios em 
–mente em frases consecutivas também prejudica a qualidade do texto. Não significa 
que seja errado usar advérbios em mente, mas significa que é útil usar algumas das 
técnicas abaixo para reduzir a sua freqüência. 
 
Truncar todos os advérbios de uma série, menos o último 
 
Este é o procedimento clássico, que todos nós aprendemos na escola: 
  • exactly, correctly and precisely 
  • exata, correta e precisamente
Substituir por de forma, de maneira ou de modo, 
seguidos de adjetivos no feminino 
 
Outro procedimento, também conhecidíssimo desde os tempos de escola: 
  • exactly, correctly and precisely 
  • de forma exata, correta e precisa
Tem a limitação de que nosso texto acaba ficando com muitos de forma isto, de maneira 
aquilo e encomprida muito o texto, o que pode ser um grande problema quando há 
limitação de espaço. 
 
Desdobrar o advérbio em com + abstrato
 
Mais uma vez, a importância dos substantivos abstratos nas línguas românicas:
 
  • carefully 
  • com cuidado 
Um advérbio pode ser modificado por outro, mas um substantivo tem de ser 
modificado por um adjetivo. Portanto, 
  • very beautifully 
  • com grande beleza 

 

  • He worked very fast and efficiently. 
  • Ele trabalhava com grande rapidez e eficiência. 
 
  • He looked at us scornfully. 
  • Olhou para nós com desprezo. 
 
  • as naturally as possible 
  • com o máximo de naturalidade possível

 

  • The accused laughingly described some of the crimes. 
  • O acusado descreveu alguns dos crimes com um sorriso (nos lábios).

 

 

Desdobrar o advérbio em sem + abstrato
 
Da mesma maneira que um advérbio que indique presença de uma característica pode 
ser desdobrado em com + abstrato, um advérbio que indique carência pode ser 
traduzido por sem + abstrato:
  • He walked aimlessly for more than an hour. 
  • Caminhou sem destino mais de uma hora. 
Aqui, o -less- indica a carência de destino.
 
Desdobrar o advérbio em com + abstrato + adjetivo
 
Esta é uma excelente solução, que torna a tradução mais fluida e idiomática. O 
advérbio propriamente dito é transformado em adjetivo, mas, como com + adjetivo é 
impossível, precisamos de algo para preencher e esse algo normalmente é um abstrato. 
O problema é que nem sempre é fácil achar um abstrato que combine com nosso 
adjetivo: 
  • No, Sir!”, she said sadly. 
  • – Não senhor, disse ela com um jeito triste. 

 

  • He looked at us scornfully. 
  • Olhou para nós com um ar de desprezo. 
Desdobrar o advérbio em adjetivo com suporte 
 
Aqui dispensamos o com, porém temos de arranjar um suporte adequado para o 
adjetivo, o que pode ser difícil. 
  • Economically, capitalism has transformed many societies. 
  • De um ponto de vista econômico, o capitalismo transformou muitas sociedades. 

 

 
 
Transformar o advérbio que modifica um verbo em um adjetivo que modifique um substantivo 
 
Este procedimento exige um pouco mais de cuidado, porque o advérbio vai modificar 
uma palavra diferente da que modificava em inglês. Por exemplo: 
  • An elderly man walked pensively. 
  • Um senhor idoso caminhava pensativo. 
No original, o advérbio modifica o verbo, na tradução, modifica o substantivo, que 
desempenha o papel de sujeito. 
 
distinção entre hífen e travessão 
 
Hífen se usa para juntar palavras e travessão se usa para separar palavras. No teclado 
do computador, o hífen fica ao lado do “0”, mas para o travessão não há tecla separada. 
Para obter um travessão, é necessário apertar Ctrl e sinal de menos do teclado 
numérico ao mesmo tempo. Também se pode apertar Alt e, no teclado numérico, 
digitar 0150, algo que só funciona se o led do Num Lock estiver aceso. 
O uso de hífen e travessão é explicado em qualquer gramática e no Guia 
Ortográfico de Celso Pedro Luft, que todo tradutor para o português deve ter à mão. 
Aqui, somente damos alguns exemplos. 
com hífen 
  • alto-falante 
com travessão 
  • A estrada Rio – Santos 
  • O triênio 2002 – 04 presenciou um aumento de 30%. 
  • A Baixa Eslobóvia – mais uma vez – tentou estabilizar a moeda, mas sem grandes resultados 
A praxe em português é usar espaços antes e depois do travessão. O travessão muitas 
vezes é usado para destacar uma intercalação, caso em que alguns seguem a praxe 
espanhola, em que o travessão fica colado à intercalação, da mesma forma que ficariam 
parênteses: 
  • A Baixa Eslobóvia – mais uma vez – tentou estabilizar a moeda, mas sem grandes resultados. (praxe tradicional brasileira) 
  • A Baixa Eslobóvia –mais uma vez– tentou estabilizar a moeda, mas sem grandes resultados. (praxe espanhola

 

Grafia de números 
 
O separador de milhares, em português, é o ponto. O separador decimal é a vírgula. 
Não importa se estamos falando de reais, euros, dólares, número de habitantes de uma 
cidade ou camelos de uma caravana. Resolução CONMETRO 12/98. 
Entre o cifrão e o primeiro algarismo de um valor monetário, deixe um espaço 
inseparável, que você consegue com ctrl + shift + barra de espaço. 

 

 

Texto de:

 

Técnicas de tradução inglês > português
Vera e Danilo Nogueira - ISCAP
 
Bibliografia 
A descrição clássica dos procedimentos de tradução está em: VINAY, Jean-Paul e 
DARBELNET, Jean – Stylistique comparée du français e de l’anglais: Méthode de 
traduction. Paris. Didier, 1977. Existem edições posteriores e uma tradução para o 
inglês, à qual não tivemos acesso. Existe uma apresentação, breve e excelente, em 
português: BARBOSA, Heloisa Gonçalves – Procedimentos técnicos da tradução: 
uma nova proposta. Campinas, SP. Pontes, 1990, reeditada recentemente. 
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